A arrumação das chapas visando a disputa eleitoral para o Executivo da Capital cearense tem repercutido entre os partidos com representação na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor). Ao todo, 15 agremiações compõem o quadro de vereadores. Seja apoiando candidaturas ou lançando nomes próprios, todas elas terão envolvimento com o pleito que irá selecionar aquele ou aquela que vai gerir a cidade pelos próximos quatro anos.
Até o momento já foram colocadas como pré-candidatos pelos seus grupos de apoio figuras como o atual prefeito José Sarto (PDT), o senador Eduardo Girão (Novo), o ex-deputado federal Capitão Wagner (União), o deputado federal André Fernandes (PL), a deputada federal Luizianne Lins (PT), o ex-deputado federal Artur Bruno (PT), o deputado estadual Evandro Leitão (PT), a deputada estadual Larissa Gaspar (PT), o deputado estadual em exercício Guilherme Sampaio (PT) e o produtor cultural Tecio Nunes (Psol).
Cinco pontos para entender as estratégias do novo momento do PDT Ceará
Decorrente da ressaca pós-eleitoral de 2022, marcada pelo rompimento da “dobradinha” que alternava no comando do Palácio da Abolição, representada por PT e PDT, a propositura antecipada dos possíveis representantes foi um dos fenômenos que movimentou a cena política cearense no último ano.
Agora, com um processo em que, antes mesmo da largada, há um número expressivo de postulantes em mandatos eletivos, já aprovados anteriormente pelo voto popular, a busca por agremiações que possam compor uma base de sustentação no Legislativo municipal é essencial sobretudo para a conquista de mais tempo na propaganda eleitoral obrigatória no rádio e na televisão.
A fim de traçar um desenho da movimentação partidária, o Diário do Nordeste conversou com parlamentares da CMFor para que pudessem ajudar no diagnóstico do cenário pré-eleitoral neste início de 2024.
SEM NOME, MAS COM ALIADOS
O Partido dos Trabalhadores, apesar de não ter definido quem estará nas urnas, tem se adiantado na aglutinação de legendas. No ano passado, duas passaram a orbitá-lo e devem estar no seu bloco para o Executivo em outubro: o Partido Socialista Brasileiro (PSB) e o Partido Social Democrático (PSD).
Vice-líder do PT na Casa Legislativa, a vereadora Adriana Almeida afirmou que a sigla já organiza a chapa de vereadores e começou a discutir movimentos em torno das prévias. “O primeiro trimestre para a gente vai ser crucial nessa discussão”, opinou.
Ao que disse a parlamentar, filiações realizadas em 2023 serviram como o pontapé inicial e os nomes colocados à disposição têm viabilidade. “Temos cinco bons nomes para que a gente possa estar fazendo essa discussão interna, até março, e sair com um nome, qualquer que seja ele, forte”.
Na compreensão de Adriana, o órgão partidário local não tem nenhuma predileção por candidatos. A petista ainda salientou que cada um deles tem atributos relevantes para o jogo. De acordo com ela, o diálogo agora vai se dar entre os movimentos que dão corpo ao PT e com a militância. Essas conversações também irão fundamentar a seleção de um time que possa ampliar a bancada na Câmara, composta atualmente por apenas dois componentes.
“Hoje nós temos eu e Dr. Vicente como os nomes que o PT tem interesse e disposição, quer jogar suas forças para nossa reeleição. E fazer outros nomes para que a gente possa fortalecer nossa chapa”, pontuou. O propósito, revelou, é ter mais um ou dois novatos do seu partido e outros membros da federação.
A federação em que a legenda está inserida foi homologada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em maio de 2022 e é composta também pelo Partido Verde (PV) e pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Ambos não possuem cadeira no Plenário Fausto Arruda na legislatura atual e buscam voltar a ter espaço no quadro.
“Essa federação é fortalecida, vem na perspectiva de juntos elegermos, no mínimo, cinco vereadores”, frisou. À reportagem, a política contou que a vinda de aliados de Evandro e oposicionistas com mandato seria uma possibilidade para que cumprissem a meta estipulada.
Além dos já mencionados, os partidos que estão no arco do Governo Elmano de Freitas – Movimento Democrático Brasileiro (MDB), Solidariedade (SD), Progresista (PP) e Republicanos (REP) – devem subir no palanque do PT na corrida eleitoral.
NOVE NA BASE
Enquanto isso, o Partido Democrático Trabalhista (PDT), que tem a maior bancada da CMFor, tentará manter o comando de Fortaleza sobre o seu guarda-chuva. O escolhido para a empreitada, pelo que declarou o presidente municipal da legenda, Roberto Cláudio, em entrevista concedida na última sexta-feira (12), será o atual mandatário.
“Há um consenso no diretório municipal, há um consenso no diretório nacional do partido e agora do novo diretório nacional da pré-candidatura da reeleição do prefeito Sarto. Isso é um entendimento comum a todos nós porque é uma gestão que, primeiro, tem dado muitos resultados para a população, temos muitas coisas a celebrar”, defendeu o ex-prefeito, mencionando dados econômicos que, na visão dele, dão legitimidade para a escolha do correligionário como o postulante.
Para Roberto Cláudio, ter o prefeito como o nome da agremiação é algo inerente ao projeto pensado pelo seu agrupamento. “Então, tudo isso dá condição natural para a pré-candidatura à reeleição do prefeito Sarto. Havia um grupo dissidente dentro do PDT, que agora está batendo em retirada, pelo menos parte desse grupo, anunciou saída do partido, então isso dá ainda mais coesão e unidade para esse sentimento”, continuou, se referindo aos ex-companheiros cidistas.
O município é estratégico para o PDT, já que é o maior gerido pelo grupo. Por conta disso, articulações com os ex-aliados PSB e PSD são tocadas pelas lideranças. Em declarações públicas, dirigentes e outros líderes afirmaram que a montagem em Fortaleza terá repercussões nas chapas para o Executiva em outros colégios eleitorais fora do estado. Recife, onde o trabalhismo tem a vice-prefeitura, seria um deles.
“O (Carlos) Lupi está super antenado, está trabalhando nesse sentido, que é do equilíbrio. Em várias capitais o PDT está abrindo mão e apoiando alguns partidos, então o Lupi está com muita habilidade trabalhando essa dimensão de uma estratégia nacional. Ele disse hoje que a grande prioridade na eleição de 2024 é Fortaleza. Isso dá ao PDT uma possibilidade de buscar aliança com outros partidos. Tenho também conversado com outros partidos”, detalhou o entrevistado.
A arrumação de candidaturas foi pauta de reuniões entre Sarto e vereadores da ala governista na CMFor. Os encontros começaram a ser realizados na segunda-feira (8), no Paço Municipal, e marcam a largada do grupo político para a formulação de estratégias que viabilizem a reeleição do prefeito.
Na quarta-feira (10), quando perguntado sobre os desdobramentos, o gestor apenas disse que trataram de assuntos relacionados com a administração municipal. “A gente está conversando com a bancada de sustentação para entender qual é a intenção dos vereadores em termos de projetos para 2024, haja vista que esse pacote de R$ 2,2 bi é o maior valor de investimentos da história de Fortaleza”, disse.
A entrada na mobilização eleitoral, pelo que alegou, só aconteceria a partir de março, com a abertura da janela eleitoral, quando é permitida a migração de partido aos que possuem mandato proporcional. A postura pública de distanciamento adotada por ele na oportunidade condiz com a praticada ao longo dos últimos eventos políticos e reveses pedetistas. No entanto, aliados deram indícios de que Sarto não está tão distante assim da estratégia.
Líder do governo na Câmara Municipal, Iraguassú Filho (PDT) foi um deles. Indagado sobre os encaminhamentos das conversas, ele citou as ações de gestão e a tentativa de aproximação do Executivo com o Legislativo. “A pauta principal é exatamente a questão do diálogo relacionado a como pode melhorar as ações da prefeitura, a questão das entregas e dos serviços, programas, projetos e obras que devem ser lançadas”, argumentou na ocasião.
Mas ele também não deixou de lado a organização para o pleito. Segundo a liderança, “questões de partido” foram levadas para a mesa. Na aprovação de matérias e, consequentemente, para competir na eleição municipal, os governistas esperam contar com o apoio de nove partidos – a relação de siglas inclui PRD, PSDB, Cidadania, Agir, Avante, PMB, PMN e PRTB.
Depois do primeiro ciclo de diálogos, uma nova agenda de encontros entre o prefeito e dirigentes partidários deverá acontecer nos próximos dias, conforme revelaram interlocutores. A montagem das chapas para o processo eleitoral é um assunto inerente a essa etapa.
Na sexta-feira (10), antes mesmo da abertura da janela partidária, de maneira informal, Ana do Aracapé (PL) e Kátia Rodrigues (Cidadania) foram divulgadas como futuras pedetistas. Por estarem no exercício dos seus mandatos, a filiação delas ocorrerá no momento reservado pela Justiça Eleitoral para formalização do procedimento.
PSB QUER INDICAR VICE
A filiação de Cid Gomes e seus aliados ao PSB deve dar outra dimensão para a sigla, que poderá se tornar o maior em número de prefeitos em todo o Ceará. O poderio adquirido traz uma munição para que possa barganhar e fomentar ambições próprias dos partidários.
“Vamos ter uma janela para definir a questão partidária e nosso arco de alianças do grupo que faço parte está bem amplo agora. Acho que é incontestável o apoio do PSB ao projeto junto ao Governo do Estado”, disse o vereador Léo Couto, líder do partido na Câmara Municipal.
Ele citou acontecimentos políticos recentes, a exemplo do apoiamento do Solidariedade. “Isso é fruto de diálogos, das articulações, do trabalho bem feito e, obviamente, teremos um nome para colocar à disposição do fortalezense. Vamos discutir, conversar, um nome em comum e competitivo para concorrer e ganhar a eleição deste ano”, completou.
A designação de um socialista para vice na majoritária que concorrerá em Fortaleza é uma das ambições. “O PSB hoje é um dos maiores partidos do Ceará. Com a vinda do presidente Eudoro Santana engrandeceu, cresceu bem mais, o partido estava praticamente sem expressão. Gerou-se uma credibilidade maior, uma musculatura, e essa vinda do senador Cid cria outra dimensão. É uma possibilidade a indicação do vice”, alegou Couto, aventando uma figura feminina como opção.
O parlamentar preferiu não opinar sobre qual seria o formato ideal de escolha da pessoa que vai encabeçar a candidatura, mas ponderou que as alternativas colocadas no radar pelos aliados são válidas. “O PT sempre foi de discutir muito, de dialogar muito, então acredito que saia do diálogo e tenha um nome comum. Caso não aconteça, acho que as prévias também são uma maneira democrática de definir candidatura”, finalizou.
RETORNO EM DISCUSSÃO
Em outubro, quando entrevistado pela Live PontoPoder, o presidente estadual do PSD deixou explícito que não iria seguir outro caminho na formalização de apoios para a Prefeitura de Fortaleza que não seja aquele encabeçado pelo grupo do governador e do ministro da Educação, Camilo Santana (PT).
Questionado sobre uma possível aliança com o PDT, caso este coloque outro nome que não seja o atual prefeito José Sarto, com quem rompeu em agosto, o dirigente foi categórico em dizer que não pretende retroceder na decisão tomada.
“Na política a gente conversa sempre e com todas as pessoas. Eu, Domingos Filho, na minha história política não tenho dado um passo para voltar atrás. Hoje nós vamos tratar dentro da base do Governo Elmano, com Camilo [Santana], com Elmano, com Cid, com todos que estão e com os demais partidos que estejam. É nessa frente que nós estamos”.
DOMINGOS FILHO
Presidente do PSD Ceará
A aliança com o PDT, discorreu durante o bate-papo, só aconteceria se os trabalhistas aceitassem retornar para o agrupamento. “Essa frente vai incluir o PDT? Sim ou não? Não sei. Então, assim… não fazemos política com vetos, vetando ninguém, mas respeitando compromissos e trabalhando as alianças que a gente está. Se estamos dentro da aliança, vamos esgotar todas as possibilidades dentro da nossa aliança”, sustentou.
Para ele, todos as figuras que já demonstraram interesse em concorrer são bastante competitivas, inclusive o próprio mandatário da Capital cearense: “Você está numa circunstância que com até 20% você está no segundo turno”. A unidade, a paciência e o diálogo seriam, nas palavras dele, os elementos essenciais ao período de definições.
A participação de Domingos Filho aconteceu dois meses depois do seu partido entregar os principais cargos que ocupava no Governo Sarto. Embora a decisão tenha sido pública e formal, vereadores continuaram votando com o Paço Municipal e filiados seguiram na gestão.
Até o esgotamento definitivo das negociações em torno do retorno do PSD, tratativas têm sido feitas, pelo que confessou Roberto Cláudio, presidente municipal do PDT. “O Domingos Filho já disse que o PSD está na base estadual, inclusive já anunciou apoio à candidatura do PT aqui, mas a gente tem mantido essas conversas. Converso com todo mundo para deixar as portas abertas e avaliar o que, ao final, será possível em termos de aliança”, destacou.
PP Cell (PSD), é um dos membros do parlamento municipal que acreditam na reintegração. Vice-líder governista na Casa, ele sugeriu, na última quarta-feira (10), ao ser abordado, durante a cerimônia de posse dos conselheiros tutelares da Capital, que é um incentivador da medida.